Ficha
Técnica
Título
Original: Nymphomaniac.
Direção: Lars Von Trier.
Roteiro: Lars Von Trier. Produtores: Peter Aalbæk Jensen.
Elenco: Charlotte Gainsbourg, Christian Slater, Connie Nielsen, Hugo Speer, Jamie Bell, Jens
Albinus, Jesper Christensen, Mia Goth, Michael Pas, Nicolas Bro, Shanti Roney,
Shia LaBeouf, Sophie Kennedy Clark, Stacy Martin, Stellan Skarsgård, Udo Kier,
Uma Thurman, Willem Dafoe.
Países
de Origem: Dinamarca. Estréia Mundial: 25 de Dezembro de 2013.
Sinopse
Em uma noite fria de inverno, o velho
solteirão Seligman encontra Joe semiconsciente e machucada em um beco. Depois
de levá-la ao seu apartamento, ele cura os machucados dela enquanto tenta
compreender como as coisas podem ter dado tão errado para Joe. Ele escuta
atentamente, enquanto em oito capítulos ela reconta a multifacetada e
luxuriante história de sua vida.
Assistido
em: 27 de Janeiro de 2014.
Avaliação:
10 Estrelas (Obra de Arte)
Minha
Crônica
Já não era sem tempo, pois finalmente eu
consegui assistir Ninfomaníaca - Volume I. Desde que Lars Von Trier lançou
Melancolia em 2011 eu espero por este com muita ansiedade, e esta ansiosa
espera foi divinamente bem recompensada. Com este Ninfomaníaca - Volume I, Lars
soma mais uma Obra de Arte ao seu currículo. Está era a última parte a ser
feita de três metas que eu tinha, após concluir a leitura de Juliette Society e
assistir Jovem e Bela. Em Juliette Society vimos alguém de intenso desejo
sexual e afetivo. Em Jovem e Bela vimos alguém cujo desejo sexual diverge do
convencional aceitável pela hipocrisia da sociedade. E aqui temos alguém que é
muito mais prisioneira do que senhora de seu desejo. Mas em todos temos tudo
girando entorno de três mulheres formidáveis, e nas palavras de Sasha Grey:
Sexo é o grande equalizador.
Pelas redes sociais eu escutei chamarem
este filme de a 3ª parte da trilogia da depressão, não sei se é um título
oficial, mas depois de assisti-lo fez todo sentido. AntiCristo, Melancolia e
este possuem muitos pontos semelhantes entre si. Os três utilizam uma abertura
musical que dá o tom do filme e combina com a estória, apesar de neste a
fotografia não estar em câmara lenta. Nos três temos fortes personagens
femininas, porém com transtornos psicoemocionais: em AntiCristo “Ela” vai da
sua dor pelo luto a um surto psicótico. Em Melancolia vimos duas irmãs, Justine vai de sua
insatisfação crônica a uma profunda crise depressiva, ao passo Claire apavorada
com um fim irreversível vai perdendo tudo que conhecia por segurança, e vai de
um medo agudo ao mais profundo desespero. Aqui temos Joe, uma maníaca sexual
compulsiva e com uma auto-imagem muito negativista.
Charlotte Gainsbourg e Lars Von Trier
combinam perfeitamente, que outra atriz pode se gabar em ser a sua estrela por
tantos filmes seguidos e em sequência? Parceria particularmente perfeita. Mas
não é só ela que está perfeita, o elenco quase todo esteve ótimo, infelizmente
só o Shia LaBeouf que realmente não me convenceu. Eu reclamo é do Willem Dafoe
não ter entrado já nesta primeira parte. Uma Thurman está formidável, sem
duvida ela foi à grande estrela da cena mais “divertida” do filme. Christian
Slater me surpreendeu, foram poucas vezes em que uma atuação dele me foi
convincente. Stellan Skarsgård é sempre uma aposta certa nos filmes do Lars, e
aqui foi fantástico em como me achei parecido com ele, tanto na forma de pensar
como na de interagir com a história que está lhe sendo revelada. Stacy Martin
sem duvida alguma debutou sua carreira no cinema de forma grandiosa, torço para
que tenha uma carreira de muito sucesso, e ainda muitos mais filmes com o Lars.
Sua trilha sonora me deixou um pouco
perturbado, a abertura como sempre estava magnífica. Dela não tenho do que
reclamar, mas ao longo do filme eu senti um mal estar em alguns diálogos que
acabou sendo muito parecido com o mal estar que senti assistindo aos dois
filmes anteriores. Em AntiCristo eu senti um pavor de que a voz da protagonista
viesse de dentro de mim e me arrastasse por com ela para um caminho sem volta.
Em Melancolia o mal estar era justamente nos momentos em que começava a tocar
Tristão & Isolda, eu sentia um pânico de que no filme chegaria o fim do
mundo e ele ultrapassaria a tela e me engoliria junto, era como estar apavorado
com medo da morte. Aqui o meu mal estar veio nos momentos de silêncio, ou
quando ela começava a falar de sua história sem nenhuma trilha de fundo, eu
senti um pavor de que o filme se tornaria um espelho de mim e eu me perderia
nele e nunca mais encontraria a mim mesmo novamente.
Desde o começo da sua história me parece
que ela não está expondo sua compulsão sexual e sim mostrando como construiu
sua auto-imagem tão negativista. O sexo só entra como mais um dos elementos que
compõe o que ela se tornou, ou acha que se tornou. Como eu disse em Jovem e
Bela, através dele eu entendi a última frase de Sasha Grey em Juliette
Society, eu fui assistir Ninfomaníaca
com isso em mente. Aqui vimos Joe que só consegue olhar a si mesma através do
sexo. Eu acredito que não há amor que não seja sexual. Isso por si só já é
muito polemico e abre caminho para muitos debates, mas não é disso que quero
falar agora. Quero falar de uma protagonista que está anestesiada para quase
tudo, pois não interessa quem é só importa que lhe de sexo, e não importa se
isso for à custa do sofrimento de outros, ela não se importa. O momento em que
ela descobre que não consegue sentir nada me lembrou Ana Luiza, personagem de
Leila Krüger em Reencontro quando desperta e assume o seu luto, daí em diante
sua vida só decaiu. Olhando para Joe eu me senti apavorado com a ideia de um
dia vir a ser engolido por meus desejos não importando se alguém possa sair
muito machucado nisso.
Eu fiquei um pouco irritado com o final
do filme, pois eu não queria ter de esperar a parte dois, eu nem sei para
quando será. Posso entender a razão de dizerem que a segunda parte será
“Hardcore”, o seu pai era a única pessoa com que ela se importava e sua reação
a morte dele foi muito fria, como se ela tivesse se fechado para qualquer
sentimento que poderia machucá-la, mas de repente tudo mudou. Foi como se um
interruptor interno tivesse sido ligado dentro dela sem perceber, e nesse
momento ela se deu conta da dor de seu luto, e foi tomada por uma plena apatia
emocional para tudo, e isso parece levá-la a depressão. E tudo isso tende (e
assim espero) a agravar toda a sua compulsão, o que deve levá-la a situações de
violência, dentre elas a resposta de como ela ficou naquele estado e naquele
lugar àquela hora. Além do Volume II, eu espero que seja lançada uma versão
integral com as duas partes num só filme, mas isso já é um desejo meu e talvez
nunca se realize.
Quanto ao sexo ser o grande equalizador,
é justamente por isso que há tanta propaganda contraria a ele neste mundo. Às
vezes parece que quanto mais ignorantes as pessoas forem em relação ao sexo é
mais fácil manipulá-las. E da mesma forma um pessoa livre pelo sexo pode ser
uma ameaça, ao passo que alguém prisioneiro dele não é. Sexo é o grande
equalizador da vida, do universo e tudo mais, mas está revelação é intima e
pessoal, é preciso descobri-la por si mesmo, pois o sexo em si sempre será
diferente em forma, essência e valor para cada pessoa. Mas um pouco de
educação, inclusive educação sexual não fará mal a ninguém. Talvez o melhor
caminho para ela possa ser o das Arte, pelo menos tem sido para mim.
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