segunda-feira, 27 de janeiro de 2014

Ninfomaníaca - Volume I

Ficha Técnica
Título Original: Nymphomaniac.
Direção: Lars Von Trier. Roteiro: Lars Von Trier. Produtores: Peter Aalbæk Jensen.
Elenco: Charlotte Gainsbourg, Christian Slater, Connie Nielsen, Hugo Speer, Jamie Bell, Jens Albinus, Jesper Christensen, Mia Goth, Michael Pas, Nicolas Bro, Shanti Roney, Shia LaBeouf, Sophie Kennedy Clark, Stacy Martin, Stellan Skarsgård, Udo Kier, Uma Thurman, Willem Dafoe.
Países de Origem: Dinamarca. Estréia Mundial: 25 de Dezembro de 2013.

Sinopse
Em uma noite fria de inverno, o velho solteirão Seligman encontra Joe semiconsciente e machucada em um beco. Depois de levá-la ao seu apartamento, ele cura os machucados dela enquanto tenta compreender como as coisas podem ter dado tão errado para Joe. Ele escuta atentamente, enquanto em oito capítulos ela reconta a multifacetada e luxuriante história de sua vida.

Assistido em: 27 de Janeiro de 2014.
Avaliação: 10 Estrelas (Obra de Arte)

Minha Crônica
Já não era sem tempo, pois finalmente eu consegui assistir Ninfomaníaca - Volume I. Desde que Lars Von Trier lançou Melancolia em 2011 eu espero por este com muita ansiedade, e esta ansiosa espera foi divinamente bem recompensada. Com este Ninfomaníaca - Volume I, Lars soma mais uma Obra de Arte ao seu currículo. Está era a última parte a ser feita de três metas que eu tinha, após concluir a leitura de Juliette Society e assistir Jovem e Bela. Em Juliette Society vimos alguém de intenso desejo sexual e afetivo. Em Jovem e Bela vimos alguém cujo desejo sexual diverge do convencional aceitável pela hipocrisia da sociedade. E aqui temos alguém que é muito mais prisioneira do que senhora de seu desejo. Mas em todos temos tudo girando entorno de três mulheres formidáveis, e nas palavras de Sasha Grey: Sexo é o grande equalizador.
Pelas redes sociais eu escutei chamarem este filme de a 3ª parte da trilogia da depressão, não sei se é um título oficial, mas depois de assisti-lo fez todo sentido. AntiCristo, Melancolia e este possuem muitos pontos semelhantes entre si. Os três utilizam uma abertura musical que dá o tom do filme e combina com a estória, apesar de neste a fotografia não estar em câmara lenta. Nos três temos fortes personagens femininas, porém com transtornos psicoemocionais: em AntiCristoEla” vai da sua dor pelo luto a um surto psicótico. Em Melancolia vimos duas irmãs, Justine vai de sua insatisfação crônica a uma profunda crise depressiva, ao passo Claire apavorada com um fim irreversível vai perdendo tudo que conhecia por segurança, e vai de um medo agudo ao mais profundo desespero. Aqui temos Joe, uma maníaca sexual compulsiva e com uma auto-imagem muito negativista.
Charlotte Gainsbourg e Lars Von Trier combinam perfeitamente, que outra atriz pode se gabar em ser a sua estrela por tantos filmes seguidos e em sequência? Parceria particularmente perfeita. Mas não é só ela que está perfeita, o elenco quase todo esteve ótimo, infelizmente só o Shia LaBeouf que realmente não me convenceu. Eu reclamo é do Willem Dafoe não ter entrado já nesta primeira parte. Uma Thurman está formidável, sem duvida ela foi à grande estrela da cena mais “divertida” do filme. Christian Slater me surpreendeu, foram poucas vezes em que uma atuação dele me foi convincente. Stellan Skarsgård é sempre uma aposta certa nos filmes do Lars, e aqui foi fantástico em como me achei parecido com ele, tanto na forma de pensar como na de interagir com a história que está lhe sendo revelada. Stacy Martin sem duvida alguma debutou sua carreira no cinema de forma grandiosa, torço para que tenha uma carreira de muito sucesso, e ainda muitos mais filmes com o Lars.
Sua trilha sonora me deixou um pouco perturbado, a abertura como sempre estava magnífica. Dela não tenho do que reclamar, mas ao longo do filme eu senti um mal estar em alguns diálogos que acabou sendo muito parecido com o mal estar que senti assistindo aos dois filmes anteriores. Em AntiCristo eu senti um pavor de que a voz da protagonista viesse de dentro de mim e me arrastasse por com ela para um caminho sem volta. Em Melancolia o mal estar era justamente nos momentos em que começava a tocar Tristão & Isolda, eu sentia um pânico de que no filme chegaria o fim do mundo e ele ultrapassaria a tela e me engoliria junto, era como estar apavorado com medo da morte. Aqui o meu mal estar veio nos momentos de silêncio, ou quando ela começava a falar de sua história sem nenhuma trilha de fundo, eu senti um pavor de que o filme se tornaria um espelho de mim e eu me perderia nele e nunca mais encontraria a mim mesmo novamente.
Desde o começo da sua história me parece que ela não está expondo sua compulsão sexual e sim mostrando como construiu sua auto-imagem tão negativista. O sexo só entra como mais um dos elementos que compõe o que ela se tornou, ou acha que se tornou. Como eu disse em Jovem e Bela, através dele eu entendi a última frase de Sasha Grey em Juliette Society,  eu fui assistir Ninfomaníaca com isso em mente. Aqui vimos Joe que só consegue olhar a si mesma através do sexo. Eu acredito que não há amor que não seja sexual. Isso por si só já é muito polemico e abre caminho para muitos debates, mas não é disso que quero falar agora. Quero falar de uma protagonista que está anestesiada para quase tudo, pois não interessa quem é só importa que lhe de sexo, e não importa se isso for à custa do sofrimento de outros, ela não se importa. O momento em que ela descobre que não consegue sentir nada me lembrou Ana Luiza, personagem de Leila Krüger em Reencontro quando desperta e assume o seu luto, daí em diante sua vida só decaiu. Olhando para Joe eu me senti apavorado com a ideia de um dia vir a ser engolido por meus desejos não importando se alguém possa sair muito machucado nisso.
Eu fiquei um pouco irritado com o final do filme, pois eu não queria ter de esperar a parte dois, eu nem sei para quando será. Posso entender a razão de dizerem que a segunda parte será “Hardcore”, o seu pai era a única pessoa com que ela se importava e sua reação a morte dele foi muito fria, como se ela tivesse se fechado para qualquer sentimento que poderia machucá-la, mas de repente tudo mudou. Foi como se um interruptor interno tivesse sido ligado dentro dela sem perceber, e nesse momento ela se deu conta da dor de seu luto, e foi tomada por uma plena apatia emocional para tudo, e isso parece levá-la a depressão. E tudo isso tende (e assim espero) a agravar toda a sua compulsão, o que deve levá-la a situações de violência, dentre elas a resposta de como ela ficou naquele estado e naquele lugar àquela hora. Além do Volume II, eu espero que seja lançada uma versão integral com as duas partes num só filme, mas isso já é um desejo meu e talvez nunca se realize.
Quanto ao sexo ser o grande equalizador, é justamente por isso que há tanta propaganda contraria a ele neste mundo. Às vezes parece que quanto mais ignorantes as pessoas forem em relação ao sexo é mais fácil manipulá-las. E da mesma forma um pessoa livre pelo sexo pode ser uma ameaça, ao passo que alguém prisioneiro dele não é. Sexo é o grande equalizador da vida, do universo e tudo mais, mas está revelação é intima e pessoal, é preciso descobri-la por si mesmo, pois o sexo em si sempre será diferente em forma, essência e valor para cada pessoa. Mas um pouco de educação, inclusive educação sexual não fará mal a ninguém. Talvez o melhor caminho para ela possa ser o das Arte, pelo menos tem sido para mim.

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