Ficha Técnica
Título Original: Jeune et Jolie.
Direção: François Ozon. Roteiro: François Ozon. Produtores: Eric Altmayer, Nicolas
Altmayer.
Elenco:
Charlotte Rampling, Fantin Ravat, Frédéric Pierrot, Géraldine Pailhas, Johan
Leysen, Marine Vacth.
Países de Origem: França. Estréia Mundial: 2013.
Sinopse
Durante uma viagem de verão com
a família, a jovem Isabelle (Marine Vacth) vive a sua primeira experiência
sexual. Ao voltar para casa, ela divide o seu tempo entre a escola e o novo
trabalho, como prostituta de luxo. A adolescente explora a sua sexualidade e
logo começa a ganhar dinheiro com os seus clientes, mas um incidente irá fazer
com que a sua mãe, Sylvie (Géraldine Pailhas), descubra as suas atividades
secretas. Ao longo das quatro estações do ano, Isabelle irá viver diversas
experiências, passando por altos e baixos.
Assistido em: 18 de Janeiro de 2014.
Avaliação: 10 Estrelas (Obra de Arte)
Minha Crônica
Já tinha uns quatro meses que
eu não me sentia tão feliz, emocionado e sensibilizado por estar diante de uma
verdadeira Obra de Arte. Esse é um filme que eu deveria ter visto no cinema, e
vou se um dia tiver essa oportunidade. Mas eu ainda quero pensar mais sobre
esse filme, e para isso não há nada melhor do que o assistir de novo, de novo,
e de novo. E que trilha sonora magnífica, ela da o tom musical certo para cada
cena do filme. Chambre
6095 evoca-me ao coração os sentimentos que até hoje sinto com a abertura de
Lars Von Trier’s Melancholia. Assim que terminar este texto já a estarei baixando-a.
Marine Vacth está absolutamente
formidável, e a título de uma curiosidade inútil, eu me senti encantado com sua
incrível beleza, mesmo tendo um porte tão magérrimo que normalmente não é a
minha preferência em termos de beleza feminina. Enredo a serviço da personagem,
e é bem isso com Isabelle visto que tudo gira em torno e em função dela. Como
muitas adolescentes ela não se da muito bem com a mãe e o padrasto, mas é muito
apegada ao irmão menor, e um pouco a melhor amiga. Ela aparenta algo peculiar e muito
curioso, uma imensa dificuldade de se ligar afetivamente num relacionamento
amoroso, e apesar disso seu desejo sexual é muito intenso. Somente uma vez eu
tinha conhecido um caso parecido. Sua primeira vez foi algo vazio e banal,
enquanto que a maioria das pessoas tende a achar algo especial, mas para ela
não houve qualquer vinculo sentimental, muito pelo contrário é como se ela
desenvolvesse repulsa por seu parceiro.
Com a prostituição ela não tem
que trilhar todo o caminho de desenvolver um relacionamento, pois com seus
clientes tudo está em pratos limpos, não há a hipocrisia pudica e romântica das
relações amorosas. E no evoluir dessas interações ela encontra o seu próprio
prazer, e aquele cliente que ela prefere por lhe dar mais carinho, como ela
própria diz, mas um infarto mudou tudo isso. E do mesmo modo que o que ela
chama de vida veio através da prostituição, à morte também veio. E nisso ela
sentiu-se culpada e suja, mas não pela venda de seu corpo, mas sim por
acreditar ter sido quem matou o outro, sentiu-se uma assassina de alguém que
gostava.
Ela não precisava do dinheiro
para nada, e nem aparentava ter planos de usá-los, mas sentiu-se lesada (e com
razão) de sua mãe tê-lo confiscado, e quantos de nós não permanecemos
prostrados quando o fruto de nosso trabalho é levado embora como se fosse algo direito e natural? Mas onde estão nossos culhões ante aqueles que só nos usam e
exploram? E fora a questão do dinheiro, o seu envolvimento no mundo da
prostituição fez com que muitos problemas familiares e relacionais se
manifestassem, e olhando dessa forma até mesmo aqueles que olham para a
prostituição com maus olhos seriam obrigados a reconhecer males que vem para o bem.
Obviamente por ser um filme Frances
a sexualidade é exposta sempre da forma mais honesta possível. Não há o menor
sentido em tratar o tema mais importante da nossa existência com tabus e
preconceitos, acaso somos assexuados? Não, e qualquer que diga que nunca sentiu
desejo por quem quer que seja estará mentindo. Mas agora quero falar da palavra
puta que é usada no filme a exaustão para todo tipo de situação e
comportamento, eu quero fazer uma pergunta: Quem é a mais puta, aquela a receber dinheiro para transar com
desconhecidos, ou a que usa o sexo (seja conjugal ou extraconjugal) para dizer
a si mesmo e a todos que é amada, tem uma vida feliz, ainda que suas práticas
devam permanecer ocultas, pois se reveladas arruinaram seus relacionamentos?
Infelizmente o que mais se vê em termos de pessoas comentando obras que expõem
a sexualidade são comentários pré-fabricados, e reproduzidos por pessoas sem
coragem ou capacidade de pensarem e problematizarem os temas que nos são
importantes e fundamentais.
Na primeira vez que eu ouvi
falar desse filme, era um comentário sobre a nova parceria de François Ozon e
Charlotte Rampling, entretanto ela para minha surpresa só apareceu nos últimos
dez minutos do filme, e com fantástico brilhantismo quase rouba a cena que
praticamente foi exclusiva de Isabelle. E por falar na faiscante interação das
duas, eu não estou bem certo de ter entendido a seqüência final, eu fico pensando
em teorias: 1° Foi tudo uma fantasia de Isabelle? 2° O encontro foi real, mas
se aconteceu por que terminou como terminou? Qual a intenção e significado por
trás de tudo isso? Ao final desta Obra de Arte uma afirmação que eu me sinto
seguro em fazer é de que através dela eu consegui entender a última frase de
Sasha Grey em Juliette Society “Sexo é o grande equalizador”.
Aos interessados segue os links donde baixei o filme
(recomendo a opção em MKV) e sua trilha sonora.
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